quarta-feira, 1 de outubro de 2008

CONTOS AFRICANOS

Há muito tempo o Brasil recebeu muitos homens e mulheres que foram capturados em diversos lugares da África e escravizados.
A história de seus povos, os segredos da sua religião, os modos de fazer as coisas eram contados pelos mais velhos para os mais novos, falaram de seus deuses, de seus mistérios, de sua sabedoria e as velhas lendas continuaram a ser narradas. As histórias são amostra da sabedoria que o Brasil recebeu da África.


Autores Africanos - Do Rovuma ao Maputo


Uma Negra Convertida
Minha avó negra, de panos escuros,
da cor do carvão...
Minha avó negra de panos escuros
que nunca mais deixou...

Andas de luto,
toda és tristeza...
Heroína de idéias,
rompeste com a velha tradição
dos cazumbis, dos quimbandas...

Não xinguilas, no obito.
Tuas mãos de dedos encarquilhados,
tuas mãos calosas da enxada,
tuas mãos que preparam mimos da Nossa Terra,
quitabas e quifufutilas - ,
tuas mãos, ora tranquilas,
desfilam as contas gastas de um rosário já velho...

Teus olhos perderam o brilho;
e da tua mocidade
só te ficou a saudade
e um colar de missangas...


Avózinha,
as vezes, ouço vozes que te segredam
saudades da tua velha sanzala,
da cubata onde nasceste,
das algazarras dos óbitos,
das tentadoras mentiras do quimbanda,
dos sonhos de alambamento
que supunhas merecer...
E penso que... se pudesses,
talvez revivesses
as velhas tradições!

http://pintopc.home.cern.ch/pintopc/www/Africa/Antonio_M/NegraConvertida.htm


Em 1992 foi publicado pela Associação dos Amigos da Ilha de
Moçambique o livro "Contos Macuas", com coordenação de Elisa Fuchs e
ilustrações de Malangatana.



"O macaco e o cágado":


"O macaco e o cágado fizeram-se amigos. Certo dia, o macaco disse:
- Amigo, vem a minha casa.
O cágado respondeu:
- Está bem.
O cágado saiu e foi a casa do seu amigo. Quando lá chegou, o macaco matou um galo, fez echima, pô-la na mesa e disse:
- Amigo, vamos lá comer a echima.
- Ah, o meu amigo pôs a echima na mesa sabendo que eu não consigo subir? - pensou o cágado. Tentou subir, tentou, mas não conseguiu comer a echima! Por fim resolveu ir para casa, mas antes pediu ao macaco:
- Amigo, dá-me as minhas ferramentas para me ir embora.
Quando estava para sair, perguntou ao macaco:
- Quando é que vais a minha casa?
- Hei-de ir na próxima semana - disse o macaco.
- Está bem - respondeu o cágado.
Na semana seguinte, o macaco foi a casa do amigo. Quando lá chegou, mataram um galo, fizeram echima. O cágado deitou fora a água das panelas e disse para o amigo:
- Não há água, mas podes lavar as mãos no poço. Tem cuidado para não as pores no chão quando voltares.
O macaco foi ao poço com a sua mulher. Lavou as mãos e começou a andar só com duas patas. O cágado tinha queimado todo o capim à volta da casa e havia muita cinza. Quase ao chegar, o macaco não aguentou mais e pôs as mãos no chão ficando com elas todas sujas.
Teve que voltar ao poço para as lavar de novo. Fez isto tantas vezes que acabou por desistir. Foi com a sua mulher despedir-se e pedir as suas ferramentas. A partir daí o macaco e o cágado nunca mais voltaram a ser amigos."

echima - farinha de milho cozida
http://pintopc.home.cern.ch/pintopc/www/Africa/Z_divers/macaco_cagado.htm


Para a cultura africana, as palavras têm poder de ação e ignorar aquilo que é pronunciado e verdadeiro é cometer uma falha grave, que pode ser comparada ao ato de tirar uma parte dos elementos essenciais do nosso corpo, o que nos faria perder a vida ou uma parte de nós.

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